A estrada que nos leva até Azrou serpenteia gostosamente por entre os cedros da floresta levando-nos a subir as primeiras encostas do Médio Atlas.
No caminho deparamos com os caracteríticos macacos da região que foram o alvo na nossa atenção por uns largos minutos. A sua proximidade com os humanos e o hábito de pedirem umas guloseimas leva-os a aguardar as muitas excursões que por ali passam para gáudio dos turistas e uma refeição fácil da sua parte.Ver aqueles animais num bosque de cedros causou-me, devo confessá-lo, alguma estranheza.
De que se alimentarão os pobres durante o inverno, já que aparentemente por ali não encontrei quaisquer árvores ou plantas que lhe providenciem a necessária fonte de sustento...?
A temperatura amena que se fazia sentir convidava a rolar. Assim partimos rumo a Midelt embalados pela estrada e pela paisagem.
Nestes momentos em que parece termos ligado o piloto automático a nossa mente divaga entre a beleza da paisagem, a necessária atenção à estrada e uma introspecção que nos leva a verificar quão pouco afinal é necessário para nos sentirmos felizes.
Chegamos a Midelt à hora do almoço.
Paramos logo à entrada da cidade e almoçamos no restaurante à berma da estrada. Estavamos a meio da refeição quando aparecem novamente o Phil e o Derek, que se tinham separado de nós em Fez.
Apareceu também o Rashid, dono de uma loja de artesanato e guia, meu conhecido de outras viagens.
Fomos com ele pousar as nossas bagagens ao hotel e preparamo-nos para fazer a pista que leva ao Cirque de Jaffar.
Ainda aqui não referi que o grupo que viajou comigo por Marrocos era constituído pelo Carlos Almeida, em GS1200, o Paulo Leite também em GS1200, o José Fonseca e Anatilde numa Guzzi Quota 1100.
Como a Anatilde estava um pouco cansada optou por ficar numa esplanada fronteira ao hotel a descansar lendo um livro enquanto nós, com as motos livres das suas bagagens partimos para a pista.
Apesar de não ser conveniente levar pendura tive que que levar comigo o Rashid para que este nos indicasse o percurso menos demolidor já que segundo várias opiniões confirmadas pelo mesmo, a chuva mais intensa que anormalmente tem fustigado Marrocos encarrgou-se de destruir por completo muitas das estradas e pistas das regiões mais montanhosas.
A pista apresentou-se rolante embora com muita cascalheira. No percurso fomos-nos cruzando com diversos 4X4 mas nenhuma moto. A certa altura decidi interpelar um casal Francês que se cruzou comigo para indagar das condições da pista. Eles disseram-me que era praticável havendo apenas um local de passagem mais estreia onde havia uns sulcos mais profundos.
Tranquilizado pela informação segui mais confiante pista fora.
Nos 26km de pista que fizemos apenas tivemos três ou quatro situações mais complicadas mas nada de extraordinário. Todos fizemos a pista até ao Cirque de Jaffar sem problemas. Chegados lá a paisagem fez-nos ver que valeu bem a pena.
Na verdade ficamos todos com pena de não termos tempo para prosseguir rumo a Ilmilchil mas estava a anoitecer e era hora de regressar.
Depois de um banho retemperador saímos para jantar. O Rashid indicou-nes uma loja onde poderíamos comprar umas cervejas para acompanhar o jantar.
A noite que se previa tranquila culminou numa maratona negocial.
O Rashid insistiu para que visitássemos a sua loja e lá nos conseguiu convencer-nos.
Para grande alegria do Kazim, primo do Rashid, a Anatilde caiu de amores por um tapete "Hambel" que ele havia mostrado.
Claro está que o restante grupo aproveitou logo para se divertir à custa da infelicidade do Fonseca que, como lhe competia, seria quem iria suportar o custo mesmo.
Entre cambalhotas e chalaças o Kazim lá ia expondo o stock de tapetes que tinha em armazém tentando convencer mais alguém a comprar.
O Fonseca muita a custo lá ia tentando resistir mas os "amigos da onça" iam-no incentivando com a frase "Incha lá Fonseca".
Eram três e pouco da madrugada quando as negociações se deram por concluídas.
O tapete que inicialmente custava 1400€ acabou por vir por pequena fracção desse valor.
Engraçada foi a forma como o Kazim e o Rashid conseguiram enrolar e embrulhar o tapete que media mais de 6m2 de forma a que o Fonseca o pudesse levar na moto.
Às 8:30h acordamos bem dispostos e prontos para o pequeno almoço que nos daria força para mais um dia de viagem.
O percurso nesse dia seria curto já que a distãncia até Maadid seria relativamente curta e sem dificuldades.
A passagem por Er-Rachidia revelou-se pouco estimulante já que a cidade não apresenta interesse de maior.
Seguimos para Maadid onde nos esperava o Gonçalo Mata e uma atraente piscina onde mergulharíamos com prazer.
A Moto do Gonçalo estava estacionada à porta do hotel ladeada pelas do Phil e do Derek.
Mais ao lado encontrava-se R80GS do Steven, um Australiano que viajara de Inglaterra para o Meeting.
Estar no Xaluca no meio do deserto dentro da piscina parecia-nos o mesmo que ter encontrado o Paraíso na Terra.
Depois de todos aqueles hóteis de qualidade duvidosa estar agora num hotel que nos presenteava com todos os luxos e mordomias a que tínhamos direito, parecia mentira.
À hora de jantar tivemos oportunidade de conhecer os outros participantes no Meeting.
No total estavam à volta de vinte participantes, o que fazia prever um encontro animado.
Após o jantar continuamos a cavaqueira numa das tendas montadas no páteo interior onde está a piscina.
Com a companhia do Gonçalo as conversas prolongam-se pela noite dentro. A conversa inciada ao jantar e continuada na tenda foi a certa altura interrompida pela chegada imprevista de um casal de Marroquinos recém-casados que se dirigiram à tenda onde nos encontravamos para fazer a foto da praxe.
Atrás deles vinha um séquito de convidados acompanhado por músicos tradicionais. Feitas as fotos o casal abandonou o local tão depressa como tinha chegado. Parece que é costume os noivos da região irem ao Xaluca fazer as suas fotos de casamento.
A conversa que tínhamos iniciado ao jantar só terminou já a noite ia longa ao som de duas moto-serras que sem sabermos como aterraram nas camas contiguas às nossas.
É isto que dá em partilhar o quarto. No Xaluca ficamos num quádruplo.
No dia seguinte ficamos-nos pelo hotel. Por um lado as condições oferecidas convidavam a relaxar e por outro eu tinha que preparar as coisas para as apresentações que iriam decorrer à noite.
Enquanto uns se entretinham da piscina para o bar e vice versa, outros iam estando na cavaqueira com os participantes entretanto chegados. O Fonseca, esse ia aproveitando para trabalhar no seu portátil utilizando o acesso wifi gratuito proporcionado pelo hotel.
Os participantes no Encontro dos Viajantes provinham de vários países. O Steven era Australiano e tinha vindo da Inglaterra tal como o Derek e o Phil. Da Irlanda tinham vindo o David e Johanson. Da Escócia vieram o Mathew e o irmão Nick. Todos iam passando o dia a explorar as pistas da região, treinando a condução na areia, enfim divertindo-se à grande.
Ao final da tarde era vê-los chegar estourados a transpirar, vermelhos que nem camarões mas com um sorriso de orelha a orelha.
Como será fácil de imaginar o resto da noite era passado a ouvir as peripécias vividas por cada um.
Arrancá-los da esplanada para as apresentações afigurava-se-me quase um sacrilégio.
Mas eles não se importavam e até ficavam gratos por serem chamados à terra.
As apresentações começaram com o Gonçalo, que de forma muito profissional apresentou os vários processos e etapas que teve que atravessar até à conclusão do Projecto BuenaYork.
Com a apresentação do Gonçalo muito aplaudida, foi a vez do Petr Hostalek fazer a sua apresentação da viagem a solo entre Praga e Pequim.
Com o Radek servindo de intérprete lá foi explicando as suas aventuras ao longo do percurso.
Pelas fotos que nos foram sendo mostradas a paisagem do percurso não era muito estimulante mas se calhar isso dever-se-á ao facto de que o Petr gosta mais de fotografar retratos e mulheres, sobretudo quando elas são bonitas. Quem sou eu para o censurar
Se quiserem seguir o relato da viagem com fotos vão a www.cronicasdevadiagem.blogspot.com