Bom, já que o Filipe falou do curso e da minha presença entre o grupo que fez o curso, junto aqui os meus comentários/impressões sobre o fim-de-semana passado, na Herdade do Monte Redondo.
E a primeira coisa que quero dizer, para que melhor possam estimar o valor que as minhas impressões possam ter para o vosso próprio julgamento, é que a minha opinião sobre os promotores do curso é mais do que suspeita, pois tenho a honra de considerar, sem excepção, os cinco "culpados" MotoXplorers (o Carlos Azevedo, o Luís Lourenço, o Carlos Martins, o André Espenica, e o "Galego" - com a gente lhe chama

) como meus amigos. Comecei a conviver com eles há cerca de um ano e meio e fiz alguns passeios todo o terreno, fora do âmbito desta aventura empresarial em que se lançaram. Fui contactando com todos eles de formas diferentes: durante os passeios, durante os jantares, conversando de viagens, trocando vídeos.
A segunda coisa que quero dizer é que estive na Herdade na condição de acompanhante (da Paula) e não como participante no curso. Em vez de me deixarem a "fazer renda"

como possivelmente outros (outras!) acompanhantes, à espera da heroína que estava afincadamente a aprender todos os segredos do todo o terreno, pude acompanhar o grupo durante o fim de semana. Fiz ronha à maior parte dos exercícios e fui tirando umas fotos e filmando algumas passagens - uma actividade de que gosto muito - e tentando dar coragem à Paula nas passagens mais difíceis (coisa que os "profs" fazem visivelmente muito melhor do que eu

)
Finalmente quero dizer que nunca fui nem sou um gajo muito desenrascado a andar nos trilhos. Não estou nada em forma, não sou muito afoito, mas do meu lado acho que tenho o facto de ser um gajo mais ou menos certinho, que não arrisca muito e também não cai muito e praticamente não tenho nenhum do equipamento recomendado

. Não entendo muito de "técnicas avançadas" e acho que nunca serei muito bom nisto; o meu interesse em andar na terra é ter liberdade para viajar por onde gosto sem grandes limitações, cheirar as flores de perto e ver as paisagens mais bonitas que não se vêem da estrada. O que aprendi devo-o exclusivamente a estes amigos (e alguns outros dos Nomads) com quem fui aprendendo informalmente como se anda de moto e como se apreciam os passeios pela natureza, muito antes de nascerem os cursos MotoXplorers. Sorte tem quem pode agora nestes cursos sistematizar, num fim de semana, uma série de técnicas transmitidas de forma profissional.
Não vos vou descrever cronologicamente o fim de semana, mas cá vai um resumo das impressões que julgo poderão ter interesse a quem encara a possibilidade de ir fazer um curso com a MotoXplorers.
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first things first e um explorador entregue ao curso tem que se alimentar bem: a comida na Herdade é excelente, à base de carnes grelhadas ou refogadas, enchidos, bacalhau com natas, batata no forno, arroz, esparregado com natas, sobremesas, tudo em
self service. Ouvi um ralhete da Paula

pela gula com que me entreguei ao que havia na mesa e esta semana estou num processo de "dieta de consciência"

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- os alojamentos (quartos) são pequenos mas muito práticos (no nosso caso, umas casinhas rústicas no rés-do-chão) e ficam junto do local onde estão as motos;
- há um telheiro com espaço para albergar as motos dos participantes, fazer operações básicas com as motos (como reparar um furo numa roda, etc). No nosso caso deu jeito no sábado, pois choveu copiosamente. A organização providencia todos os meios: ferramentas, ar comprimido e até um lanchinho a meio da tarde para recuperar as forças;
- há espaços comuns nas instalações na Herdade com bar, bilhar, projector de vídeo, entre outros;
- o local é de uma grande beleza e tranquilidade e existe uma bela piscina (ainda pouco acolhedora nesta época mas em breve a coisa vai mudar!) com vistas para este cenário;
[bom, já é mais do que tempo de ir às "coisas sérias", ou seja, ao "trabalho"!]

- fiquei genuinamente espantado com a variedade de tipos de terreno e situações que nos proporcionam os trilhos em volta do local onde ficamos;
- há de tudo: terreno rolante, lama (cortesia da chuva recente!), regos, ribeiros em terreno plano, rios cavados, pedra, areia, um ribeiro seguido de areia, declives de todas as dificuldades e inclinações, enfim todas as situações pelas quais passei em muitos passeios e muitas mais que nunca tinha encontrado. Julgo também que ainda há mais terrenos preparados para exercícios específicos que não chegamos a visitar por causa das partidas do S. Pedro.
- também fiquei muito supreendido com a extensão dos percursos: são trilhos que nunca mais acabam. No total devenmos ter feito uns 80/90 quilómetros nos dois dias pelos trilhos.
- algumas das configurações do terreno para praticar determinadas técnicas são "naturais", mas muitos dos locais foram transformados - alguns profundamente - para executar técnicas específicas. É fácil perceber (como viram nas fotos do Filipe e vão nas minhas!) o enorme trabalho e cuidado que foi posto na preparação dos palcos para os vários exercícios.
- os
tour leaders e formadores são pacientes e amigos durante os exercícios e um fim de semana com eles é muito mais do que uma "injecção" de técnicas TT. Todos partilham um gosto enorme pelas viagens de longo curso e falam delas com propriedade e na primeira pessoa. No gosto genérico pelas grandes viagens, é também curioso ver que têm ramificações nos interesses, que se complementam.
O Carlos Azevedo refere os cursos que todos fizeram; eu, que trabalho numa instituição que concede diplomas (de outro tipo) sou sempre bem céptico em relação à forma como eles "nascem". Claro que eles têm sempre alguma utilidade, por vezes muita quando são mesmo bons, mas neste caso, o que tenho como melhor prova de profissionalismo é a honestidade do percurso destes rapazes. Uma vida a aprender sozinhos, a viajar, a partilhar isso com outros. Agora passaram a uma fase mais profissional, fizeram todos os cursos, observaram, tiraram ideias, e montaram com dedicação e MUITO trabalho uma escola "acessível a todos" cá na nossa terra. Não imagino mais ninguém neste país em quem depositaria a minha confiança a aprender como conduzir uma moto na perspectiva de fazer uma grande viagem, num ambiente amigável e bem divertido, que foi o que vivi este fim de semana.
Mas como disse inicialmente eu sou suspeito porque os conheço. Perguntem a quem for fazer o curso em breve e não os conhece!
Vamos agora a umas fotos (noutro post)!
Zé Paulo.
PS: Se porventura disse alguma bacorada técnica, corrijam-me por favor!