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MARROCOS - A VIAGEM
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Autor:  Antonio Martins [ sexta mai 29, 2009 12:07 am ]
Assunto da Mensagem:  MARROCOS - A VIAGEM

Este é o relato do passeio “a solo” que fiz recentemente a Marrocos e que é essencialmente dedicado ao meu amigo e membro deste forum, João Casaca que à última da hora se viu impedido de me acompanhar, por r,azões de saúde. Era um passeio que há muito programávamos .
Armado com a informação que fomos recolhendo na net e incentivado por outros amigos viajantes com blogues muito interessantes ( mouroagreste’s weblog do António Mourinho e The Great Escape do Tiago Sameiro ) , parti a 15 de Maio. Interessava-me chegar rápido ao destino e a opção foi seguir pela sensaborrona A2 até ao Algarve e daí para Tarifa.
Havia alguma ansiedade na tramitação fronteiriça , considerando o que alguns me tinham descrito como autênticas odisseias. Alguns trocos, associados a boa disposição resolveram rapidamente este primeiro obstáculo e 30 minutos depois do desembarque , estava a rolar em Tânger. Tive a primeira experiência do que é conduzir em Marrocos e a solução é evidente : Esqueçam todas as regras que não passem pela máxima “olho vivo e pé ligeiro” ( no caso, acelerador ligeiro ) !
Tânger fica para trás e a minha “menina” começa a encaminhar-se para Chefchaouen. Após algumas curvas eis que surgem as montanhas que servem de cenário a esta característica localidade. Os últimos raios de sol incidem sobre a paisagem , dando-lhe um colorido invulgar. Parece uma daquelas fotografias tiradas a sépia . Após algumas hesitações e perguntas , encontro o hotel. É simples, simpático e acolhedor. O pessoal é prestável. Tenho o primeiro contacto com o “guardien” que vai ficar a tomar conta da “poderosa” durante a noite. Já sabia quem era o Aziz através de uma fotografia sacada num blogue (mouroagreste’s weblog). Dei-lha , o que provocou um sorriso de orelha a orelha que colocou em evidência a pouca frequência com que deve ir ao dentista . É de facto um tipo impecável sempre pronto a ajudar. Indicou-me onde podia comer e abanquei numa agradável esplanada , junto da mesquita, onde fui presenteado com um típico prato marroquino que se assemelhava a uma empada de galinha polvilhada com canela…
Com quase 800 kms no pêlo, apenas queria um jantar, banho e cama.
Segundo dia, partida com direcção a Azrou, passando por Meknés e Ifrane. Esta última é de facto um pouco surrealista , pois parece que aterrámos numa qualquer estância de inverno europeia, tirando os autóctones. Pode ser bonita ,com as suas florestas de cedros, mas não “casa” neste universo que é Marrocos. Mais autêntica , Azrou fervilha de vida confundindo-se as estradas com os passeios pela convivência pacífica entre pessoas e veículos… e alguns burros também. Após ter despejado a tralha no hotel e tomado um banho, decidi dar uma de marroquino e fui sentar-me numa esplanada , onde só havia homens a bebericar café e a fumar. É dos exercícios que mais gosto de fazer quando visito outros países … sentar-me num sítio público e observar . Aprende-se muito . Nesse dia o jantar foi fruta que comprei num mercado local.
Amanhece um pouco nublado . A etapa de hoje tem como destino as dunas de Erg Chebbi. Foi o dia mais rico visualmente. Atravessam-se paisagens deslumbrantes com uma paleta de cores que faria inveja a qualquer pintor. O terreno vai alternando entre magníficos vales , imponentes montanhas com farrapos de neve , ribeiros apressados, mais montanhas mas agora domina a cor ocre. O deserto aproxima-se . Atravessando um terreno despido surgem no horizonte as dunas . Parece que foram produzidas num qualquer estúdio de cinema e ali colocadas. O hotel encontra-se perfeitamente enquadrado . Construído com uma argamassa feita à base de areia e palha . Num dos pátios internos , uma piscina surge provocante. Até tropeço , para me ver livre do fato da moto e vestir o fato de banho. Não quero saber de mais nada… só falta mesmo uma cervejola para experimentar o paraíso. Pela primeira vez contacto com outros motards. São todos franceses e belgas. Não se cosem muito bem uns com os outros e eu no meio disto tudo. Como alguém costuma dizer “ isso não interessa nada”. Venha o jantar seguido de uma sessão de música berbere. A luz apaga-se às 23 h , o gerador consome muito. Recolho ao quarto , onde descubro uma pequena criatura na cama. Também tem direito à vida. Pego nela e ponho-a na rua. Apago-me antes da luz.
Acordo… já é de manhã ! Ai que não vi o nascer do sol ! Não faz mal , aquela luz está lá, difusa sobre as dunas que se erguem à saída do hotel. Tenho que lá ir. Descalço-me para melhor as sentir. Começo a tirar fotografias que nem um doido. Desisto… é impossível qualquer máquina captar aquela ambiência ! Que pena não poder ficar mais tempo. Despeço-me com a promessa de voltar , “inshallah” . Aponto para as gargantas do Todra que ficam a cerca de 200 kms. Após cruzar algumas pequenas localidades, irrompem esmagadoras quais catedrais de pedra. A água corre em ribeiras que bordejam a estrada ajudando a suavizar a sensação de esmagamento que se sente junto daquelas paredes que se esticam para o céu. Há que fazer um exercício de abstração para nos isolarmos de magotes de turistas que são despejados pelos autocarros e jipes. A estrada esgueira-se para o interior e o silêncio regressa. Envergonho-me com o ruído profano que vem da minha “menina”. Tenho de acordar e regressar à terra pois ainda há muitos kms para comer até Ouarzazate. Chego ao fim da tarde e depois do sagrado duche, decido oferecer-me um jantar mais normal , depois de já ter provado a mim mesmo que consigo comer coisas estranhas em sítios mais estranhos ainda . Ouarzazate é uma cidade com um traçado moderno, com alguns edifícios de bom gosto e com uma excelente oferta hoteleira.
Pequeno almoço tomado e está na hora de partir para Marrakesh . Vai ser um dia longo ,mais pelo tipo de estrada que vou enfrentar. Se tivesse que atravessar aquelas montanhas de carro, só depois de tomar uns comprimidos para o enjoo ! As curvas encadeiam-se umas nas outras, retorcendo-se montanha acima, montanha abaixo. Mais uma vez, a máquina fotográfica mostra-se impotente para captar tudo o que se vê e que se sente. Ultrapassada a montanha , vem a planura e Marrakesh aproxima-se. Abrem-se avenidas largas mas o trânsito caótico não é diferente de outras paragens. As indicações que trazia para chegar ao hotel tornam-se completamente inúteis. À semelhança do que aconteceu durante toda a viagem , são os polícias que me safam. São de uma amabilidade inexcedível. As indicações que me deram foram claras e precisas. Finalmente chegava ao meu pouso dos próximos 2 dias.
Marrakesh, misto de admiração e desilusão. Muito por culpa da minha falta de preparação para o que ia enfrentar e pela minha assumida pouca habilidade para lidar com situações de assédio comercial . Confesso, detesto compras , detesto regatear, detesto melgas… Bem feito, fui enganado ! Bem, deixe-mo-nos de autocomisseração pois o “prejuízo” pouco ultrapassou os 10 Eur. O defeito é meu que tenho dificuldade em lidar com a sensação de que me estão a tentar enganar a toda a hora.
Fora este sentimento anti mercantilista que me acompanha, Marrakesh tem coisas fantásticas principalmente para quem aprecie arquitectura, arte , fotografia, vida nocturna, etc.
Passam-se os 2 dias e está na hora de “fazer a troucha e zarpar” em direcção a Asilah, última etapa em terras do reino de Marrocos, antes de apanhar o Ferry. A ligação pode fazer-se toda por auto estrada. Apenas uma nota : nas auto estradas marroquinas também se pode parar um autocarro ou táxi para apanhar passageiros que com toda a facilidade saltam as redes divisórias (quando as há).
Asilah ( Arzila ), pequena localidade costeira, dotada de algumas estruturas hoteleiras e servida por bons restaurantes. Também aqui , treinei a minha veia marroquina e fui para um café assistir a um jogo de futebol na televisão. Observando a assistência , concluí que afinal temos muito a ver com os marroquinos !
Último dia, embarque no ferry em Tarifa que mais uma vez correu lindamente (escorrendo mais uns diranzitos). Travessia tranquila e regresso a casa a “dar-lhe gaz”.
Chego a casa e anuncio-me : “Já cheguei mas para o ano vou outra vez !”:fixe:

Autor:  Alby [ sexta mai 29, 2009 3:19 am ]
Assunto da Mensagem: 

Obrigado António pela tua crónica de viagem. Curta, precisa, concisa, poética: ex."ribeiros apressados". "paleta de cores que faria inveja a qualquer pintor"!

Por momentos fizeste-me reviver a viagem que fiz há dois anos a essas paragens, mas em sentido inverso ao teu.

Acredito que o nosso amigo João Casaca ficou feliz ao ler a tua crónica, pois estará quase pronto para viver de novo as aventuras, ali ou noutro lado qualquer, que ele tanto aprecia.

Um grande abraço.

Autor:  Alexandre Oliveira [ sexta mai 29, 2009 10:11 am ]
Assunto da Mensagem: 

Parabens Antonio, obrigado pela partilha, faz-nos sempre de alguma forma sentir uma nostalgia quando le-mos crónica como esta...
Deve ter sido Uma experiência gratificante sem dúvida, tens fotos poderias colocar algumas se puderes...

bom fim de semana...

a partilha torna-nos universais...

abraço

Autor:  Hans Freitass [ sexta mai 29, 2009 12:09 pm ]
Assunto da Mensagem: 

Olá amigo António, bom dia!
Vou começar por te agradecer, não só pela dedicatória no início da tua crónica, como também pelos bons momentos que passámos a preparar o passeio.
Desde logo, (preparação), fiquei certo que faríamos uma boa dupla para executar o projecto, houve estudo, empenhamento e trabalho feito, de tal modo que às tantas, pairando sobre os mapas, (adoro pairar sobre os mapas antes das viagens ... e depois também), sem nunca ter estado em Marrocos já conheço alguma coisa sobre o país ...
Depois aconteceu o que aconteceu e lá tiveste que ir a solo, foi duro para os dois, mas nunca tive dúvidas sobre qual seria a tua decisão, é mesmo assim que se faz, e embora algo preocupado foi muito bom ver que seguirias viagem apesar de tudo!
Quanto à crónica digo-te que achei muito boa, bem escrita e sucinta, de uma forma que permite a quem lê ir visualizando a tua viagem ...
Obrigado por tudo amigo, espero agora que mais cedo que tarde lá voltes na minha companhia, para continuarmos a exploração daquele país ... e não só!
Um grande abraço
João

Autor:  Antonio Martins [ sexta mai 29, 2009 12:18 pm ]
Assunto da Mensagem: 

Obrigado pelas V/ palavras. Volto apenas para referir que o facto da crónica ser sucinta , deu um trabalhão do caraças pois a tentação para ser mais descritivo é grande e corre-se o risco de ser inversamente proporcional à paciência de quem lê. Quanto à sugestão das fotos, vou tentar descobrir como é que as consigo carregar no forum. Aceitam-se ajudas e dicas .:embaraço:

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