O passeio começa ainda no sábado, com um encontro do Forum AT Portugal. Muito fixe, um almoço seguido de passeio pela Mata da Albergaria, um miradouro muito bonito e um estradão que ladeia a barragem de Vilarinho das Furnas. Contei em pormenor no Fórum AT Portugal, se quiserem saber desta parte.
No final do dia regressei a Espanha em direcção à região de León. Logo depois da fronteira, em Portela do Homem, passei pelos famosos baños públicos em Torneiros. Num tanque público ao ar livre, mesmo ao lado do rio Caldo, livremente se partilha uma mistura de água quente termal (que brota a uma temperatura capaz de nos cozer!) com água do rio. O local é bastante frequentado e há um parque de estacionamento com algumas auto-caravanas.
Apesar de o tempo estar a melhorar a olhos vistos, fazia muito frio e eu tinha dormido pouco na noite anterior. Parei não muito tarde numa aldeia anónima, minúscula, não muito longe de Ponferrada. O restaurante era a único estabelecimento aberto na aldeia. Era um tasco familiar, simpático. Meia dúzia de idosos a jogar às casas, 4 ou 5 pessoas jantavam, aparentando ser amigos dos donos. Fui observando as dinâmicas no único local com vida da aldeia. A meio do jantar reparei que tinham “habitaciones”. Estava cansado e amanhã também era dia. Para quê regressar ao frio? Fiquei ali mesmo, num confortável e ultra-barato quarto. Nestes locais familiares não há salamaleques. A família toda participa e receber o hóspede. Garagem para a moto? “Pões aqui atrás da casa, abrigada”. Que mais podemos querer?
Depois de uma noite retemperadora, de manhã, uma pequena “charla” com o (creio) pai do homem da família com quem tinha conversado na noite anterior. Perguntou-me de onde vinha. Disse-me ser da região de León, para onde eu me dirigia e conhecia bem as grutas que eu iria visitar mais tarde. Conversamos um pouco sobre o tempo, sobre agricultura e o tempo estranho que tem feito nas últimas semanas, a situação económica difícil comum aos nossos dois países. Neste último ponto, um fel muito pouco contido da sua parte, pelos “abutres” nos governos sucessivos que têm destruído o país. No tempo do Franco (um ”ditador suave”, em sua opinião) é que as coisas eram “direitas”, era o que estava à vista, mas agora todos se aproveitam do que é comum e passa por gente séria. Deseja-me boa viagem e lá vou eu com a minha farpela quase à civil, calcinha de ganga bem permeável aos 7 graus matinais.
Escolho estradas nacionais e quando possível secundárias. Vou até Ponferrada, que conheço relativamente bem. É uma cidade de dimensão média, a que se chega quando se contorna a cadeia de montanhas da Sanabria. Bragança fica do lado Sul. Embora já o tivesse observado na Sanabria, fico impressionado com a quantidade de neve que ainda se observa nesta altura, já Maio vai avançado. Da parte nova da cidade, olhando para Sul vê-se, imponente, a neve dos montes na Sanabria.
Após uma curta volta na cidade, na calma de um Domingo de manhã, rumo para Astorga por uma estrada municipal estreita. De lá têm-se vistas magníficas para a cidade, incluindo um mamarracho que sobressai desagradavelmente da planura da povoação. A Norte, vêem-se alguns montes nevados, embora menos do que a Sanabria.
Para Norte o mesmo espectáculo deslumbrante da neve.
A estrada para Astorga está repleta de peregrinos que fazem, a pé ou de bicicleta, o caminho de Santiago, o principal. São às dezenas ou centenas, dispersos pelos trilhos que estão pré-preparados. Ao longo do caminho há albergues específicos para peregrinos, que os recebem gratuitamente ou quase.
O caminho de Santiago é hoje uma rota pelo menos tão cultural quanto religiosa. Vêm pessoas de todo o mundo para fazer estes caminhos, que são uma forma diferente de conhecer Espanha. Esta época é a ideal. Muitos já podem fazer férias e a temperatura ainda está muito agradável.
Os peregrinos no caminho entre Astorga e Ponferrada:
Passo ao largo de Astorga, cidade pequena, acolhedora e um dos pontos mais importantes das rotas históricas e religiosas do norte de Espanha. Conheço bem a cidade; aqui passei no Verão de 2007, em scooter, a caminho das Asturias. Aponto a León. De León toma-se uma pequena estrada departamental que segue junto ao rio Torío e que leva à Cueva de Valporquero, uns 40/50 kms a nordeste.
Um bocadinho de orientação num mapa:
À medida que nos aproximamos do local da Cueva, o terreno, até ali plano, anuncia os seus relevos, mesmo com uns farrapos de neve. Mesmo antes de chegar à cueva, passa-se por um curto mas bonito desfiladeiro. Fica mais bonito num pequeno vídeo, espero, mas que tem que ficar para depois.
A situação é um pouco singular e fiquei com a sensação que é em consequência disto que permanece relativamente pouco conhecida a que não é da zona. Encontra-se numa zona franja da cordilheira cantábrica. Já não fica longe de Riaño, que é uma espécie de porta de entrada para os Picos da Europa que na região retêm toda a atenção. Que passa por ali, vai que nem uma seta para nordeste para o coração do Parque dos Picos onde as atracções são muitas, ou em caminho para as Asturias (Oviedo) prefere-se a AP-66 ou então a clássica nacional 630 que também corre na direcção Norte-Sul.
No entanto o cantinho turístico da Cueva de Valporquero é muitíssimo aprazível e as grutas surpreendentes bonitas e majestosas. Já estive em Postjona, na Eslovénia, onde estão as maiores grutas visitáveis, da Europa (para quem não conhece, vai-se num comboio eléctrico) e estas são muitíssimo ricas em variedade de formações.
Adiante! O desfiladeiro:
Há gente que aproveita para treinar a escalada mesmo à beira da estrada.
As várias pontes sobre o rio Toría nos kms do desfiladeiro:
O pequeno local turístico em torno das grutas está muito bem conseguido.
Uma praça assente num vale suave, com um jardim para crianças, um restaurante/cafetaria, alguns cavalitos com as suas crias pastam alegremente. Um local excelente para famílias passarem uma tarde.
Momento de ternura...
Há uma formação rochosa caprichosa, sui generis, em equilíbrio delicado, de onde escorre água com abundância.
[continua]