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 Assunto da Mensagem: A TRANSPIRENAICA
MensagemEnviado: quarta ago 24, 2011 11:26 pm 
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A travessia dos Pirinéus, do oceano atlântico até ao mediterrâneo, por estradas muito secundárias, caminhos florestais, rurais e fora da estrada, à moda TodayAdventure.

Com o Ramadão a acertar em cheio no mundo árabe, em todo o quente mês de Agosto, uma ida para Sul não se perspectivava convidativa. Convidativa é sempre a ideia de passar alguns dias de férias do quente mês de Agosto a alguma altitude. Ir para a montanha com calor é sempre fresquinho garantido. Ir para a montanha de moto é também sinónimo de muitas alegrias.

Já há alguns anos que a ideia estava mergulhada em banho-maria. Em 20 anos de viagens de moto pela Europa, atravessei muitas vezes essa barreira física que separa os ibéricos do resto da Europa, a maior parte das vezes junto a um dos dois mares: atlântico ou mediterrâneo. É mesmo junto a estes dois mares que a largura dos Pirinéus é mínima e se ultrapassa com mais rapidez e facilidade. Mas esta cadeia montanhosa é também rasgada por alguns vales, orientados na direcção norte-sul, alguns com túneis que muito foram melhorando ao longo dos anos. Há vinte anos, percorrer alguns destes túneis tinha o sabor de grandes aventuras!

Os Pirinéus têm assim sido uma barreira física considerável entre a península ibérica e o resto da Europa, fazendo com que historicamente tenha havido, durante muito tempo, contactos importantes dos habitantes desta península com o continente africano. A origem destes montes - mais “velhos” do que os Alpes, que tanto gostamos de percorrer de moto – remonta a algumas dezenas de milhões de anos atrás na história da Terra. Há 100 milhões de anos, a Ibéria era um mini-continente autónomo, separado da Eurásia (onde estavam a maioria dos países europeus actuais), situado a oeste da região onde se localliza actualmente a França. Por pressão do Golfo da Biscaia, há 80 milhões de anos, e “entalado pela placa africana”, que não o deixava movimentar-se para Sul, este pequeno continente ibérico começou a entrar em choque com a placa eurasiática, dando origem às montanhas que hoje conhecemos como os Pirinéus, num processo que terminou há 20 milhões de anos. Os Pirinéus de hoje são uma versão “tratada” pela erosão, dos montes então formados pelo choque destas duas placas.

Antes que se assustem com uma possível “coça” de geologia :lol: , vamos ao propósito deste passeio. Depois de tantos anos utilizando os Pirinéus como porta rápida de entrada e saída da Europa central, uma ideia germinava na minha cabeça já há alguns anos: percorrer estas montanhas de uma ponta à outra, numa direcção transversal à “habitual”, entre os dois mares: atlântico e mediterrâneo. E estabeleci que faria a travessia no sentido Atlântico -> Mediterrâneo e pelo lado espanhol, com pequenas incursões em território frencês, se necessário. Estabeleci também que iria fazer isso pelos caminhos mais rudimentares que fosse possível.

Não sabia ainda o que “rudimentar” queria dizer, mas a minha ideia era fazer o essencial da travessia fugindo às rotas mais comuns e aos circuitos turísticos habituais, se possível em parte fora de estrada, indo o máximo ao encontro da cultura tradicional dos povos pirenaicos, sobretudo o do país basco e o povo catalão, curiosamente os povos ibéricos (ou com uma parte ibérica) que mais têm reclamado independência e que têm línguas e dialectos próprios (Andorra constituiu-se como um principado).

Sobretudo na parte dos Pirinéus Centrais, uma estrada corre grosseiramente paralela à fronteira franco-espanhola, chamada (pelos espanhóis) “eixo pirenaico”. É a N260, a rota óbvia. Eu queria fugir dessa rota.

No entanto levantavam-se algumas outras questões:

• Iria fazer a viagem a solo, como tem sido costume nos últimos anos, na pequena vadiagem tradicional de Verão. Como qualquer “offroadista” sabe, mesmo os mais experimentados e habilidosos, “nunca se vai sozinho para o monte”, e muito menos longe de casa. Ora eu não sou nem experimentado nem habilidoso. No entanto gostava de fazer algum off road, sem perder de vista esta máxima.

• Na busca prévia de ideias para uma rota, deparei com vários relatos de restrições à circulação fora de estrada em algumas zonas dos Pirinéus. Não sabia o que iria encontrar no terreno, de facto.

• Perguntava-me até que ponto não gostaria, já no terreno, de dar algumas facadinhas no estilo vadio da viagem e misturar-me com os turistas de vez em quando. Li sobre histórias de grutas de bruxas (abertas ao turismo) no país basco, fui espeleólogo e tinha a curiosidade de lá ir espreitar. E quem sabe de experimentar outras actividades turísticas que me aparecessem pelo caminho.


Não tinham que ser umas férias suadas, nem me iria impôr um percurso ou actividades rígidas. Como diz Jamie Pearson, “Never forget that it’s your vacation and there’s no wrong way to do it. There’s no such thing as a must-see attraction. It you travel all the way to Paris and order room service, that’s your business. Do what feels fun to you.”

A cadeia montanhosa pirenaica tem um pouco menos de 500 quilómetros de extensão e os percursos habituais pelas estradas asfaltadas indicam como típicas, distâncias de 800 a 900 quilómetros entre as duas costas, pelas comunidades autónomas espanholas do País Basco, Navarra, Aragão e Catalunha.

Na atribulação que tento sempre evitar mas que se foi tornando habitual, dos dias anteriores à partida, acabei por encontrar e optar por tomar como base do percurso, um trajecto GPS que encontrei na comunidade Wikiloc, aqui: http://pt.wikiloc.com/wikiloc/view.do?id=1131388 . Descarreguei todo o percurso, que foi percorrido no sentido inverso do que eu pretendia fazer, gravei numa Pen-Drive e esqueci-me do assunto. Talvez pela impreparação e por ter visto outros percursos feitos por motos, não reparei na altura que este em concreto tinha sido feito em bicicleta, em 16 dias, e estava descrito como difícil. Talvez não acreditem, mas só agora, ao redigir o relato, me apercebo disto. Muito do que encontrei pelo caminho, só agora se torna claro! :lol:

Reservei 15 dias para a vadiagem. Dela resultou uma estranha mistura de percurso por estradas muito secundárias, rurais, florestais, algumas incursões todo-o-terreno e muitas variantes ao percurso-base, basicamente para ver alguns dos vales que correm na direcção Sul-Norte e se dirigem para França, e também para actividades mais “à turista”.

Nesta viagem a minha companheira foi o (actualmente) meu "motão": uma trail Suzuki 350, com a provecta idade de 20 anos, equipada com duas malas laterais oferecidas por um amigo: o António Caldeira. Apesar do tratamento nem sempre meigo que lhe dei, portou-se de forma exemplar e o único percalço foi a perda de um dos dois parafusos que prendem a mandíbula do travão da frente. Que não teve qualquer consequência: fez mais de 1500 kms com um parafuso a menos. :lingua:

Alguns números rápidos (mais, ficam para mais tarde no relato):

• Viagem de ida e volta a partir de Bragança: 3750 Kms
• 3 dormidas em camping selvagem, 1 em albergue (dormitório), 1 em bungalow em camping, 1 em hotel e as restantes em camping oficial.

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MensagemEnviado: quarta ago 24, 2011 11:27 pm 
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Chega de conversa. Algumas fotos para abrir o apetite para o relato que se seguirá.

As cores:
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Hotéis de arquitectura futurista no país basco:
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Aquilo que nos alegra:
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A ETA:
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As paisagens:
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Grutas onde (alegadamente) se praticaram actos de bruxaria (e foi gente para a fogueira por causa disso):
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Elegância animal:
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Morte:
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Romance:
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Mais romance:
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Romance hardcore (crianças, por favor, fechar imediatamente o Magalhães)
[provamos assim que nos nossos relatos são aceites todas as raças, cores e orientações sexuais]:
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Lama:
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Pontes suspensas:
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Bom povo dos pueblos espanhóis:
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As praias fluviais:
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Momentos difíceis nos trilhos:
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Neve:
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Mais paisagens:
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Beleza domesticada:
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No regresso, passagem pelo deserto das Bardenas Reales:
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MensagemEnviado: quinta ago 25, 2011 9:13 am 
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já estava com saudades destes relatos.... :)

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Vivam cada dia como se fosse o último... Um dia vão acertar!:fixe:


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Grande viagem. Parabéns.

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Mais uma grande contribuição. Parabéns pelo relato e belas imagens e que continues com esse espírito de aventura que deve ser, infelizmente, a única imagem credível do nosso povo.

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LRocha


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obelix_xxi Escreveu:
já estava com saudades destes relatos.... :)


Nem mais!
Este era o meu verdadeiro sentimento.

Parabéns Zé Paulo!

Excelente como sempre.
Pena que temos que esperar um ano pela próxima!!!:lol:

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Ab ;)
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Ex: K1200R:love:

O melhor de dois mundos...continua!
Só se vive uma vez...aproveitem!


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-obrigado pela partilha simplesmente maravilhoso:smile: :smile:


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Zé como só tu o sabes fazer.. podes continuar SFF!!!

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Ride safe.


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espetacularmente maravilhoso sem palavras. á falta de palavras para me expressar realmente ao que senti com este relato, passo a dizer Obrigadão pela partilha.:fixe:


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 Assunto da Mensagem: Zé Paulo ataca de novo...
MensagemEnviado: quinta ago 25, 2011 9:12 pm 
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Localização: Alcochete
É com muito deleite que digo que tu e os percursos que arranjas me fazem sentir envergonhado.
Apresentas sempre algo de novo, que está tão disponível e que agrada tanto, que faz parecer os caminhos rolados rotinas, coisas vistas outra vez, mais do mesmo.
O que fica sempre por cima é o gosto de andar de mota, claro, só que tu dás-lhe outra graça, enriqueces a paisagem e usufruis, engordas de prazer.
Pronto, já tenho mais ideias para me entreter...

_________________
Prós acamados nas cabanas do tédio...não há remédio...é deixá-las arder.
(Lacraus)

ADVirtam-SE
legasea


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MensagemEnviado: sábado ago 27, 2011 5:05 pm 
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Mensagens: 13
Localização: Esposende
Boas fotos.
Obrigado pela partilha.


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MensagemEnviado: sábado ago 27, 2011 5:30 pm 
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Mensagens: 728
Localização: Lisboa
mais uma vez amigo, nos deixas de boca aberta...
vim eu de 7mil km e ainda acho que consigo ficar com água na boca...
façamos os kms que fizermos nunca será o suficiente...
a nossa alma anseia por mais...
obrigado pela partilha...

_________________
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MensagemEnviado: sábado ago 27, 2011 7:10 pm 
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Registado: segunda mai 05, 2008 8:53 pm
Mensagens: 658
Localização: Atenas, Grecia
Viva Zé Paulo,

É tal e qual como dizem: as saudades que já tinhamos dos teus relatos! Simplesmente fantástico.
E gastro-referências, cadê?

Um abraço desde a longínqua Luanda.

_________________
Pedro, El Paco
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MensagemEnviado: segunda ago 29, 2011 2:47 am 
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Todas as viagens são diferentes e todas se prestam a ser contadas de forma diferente. Não sou muito adepto de fazer relatos em jeito de jornal diário e prefiro normalmente organizar as ideias de viagens segundo outras lógicas, mas neste caso parece-me apropriado, de modo que vamos a isto.

Dia 1: Bragança – (proximidade de) Estella - 628 Kms

A partida foi pouco ortodoxa, como são normalmente as minhas partidas. O passeio deste Verão foi “entalado” entre duas obrigações musicais: dois concertos acordados com a banda rock de que faço parte. Um na concentração motard de Bragança, outro nas festas da cidade.

Eram umas 3 da manhã quando cheguei a casa, vindo do concerto. Cansado, sabia no entanto que já dificilmente conseguiria dormir. Fui ao sofá onde havia espalhado todos os itens de que me lembrava ao longo dos últimos dias , juntei algumas coisas que, de cabeça, vi que faltavam, fui buscar as malas e o saco impermeável à garagem e comecei a enchê-los sem grandes pressas.

Pelas 5 e meia, ainda a noite era escura, depois das habituais “fitas” a pegar de kick (não há arranque eléctrico) a Suzuki 350 saiu da garagem, rumo a leste. Fazia frio. O céu não tardou a aclarar-se, poucos quilómetros depois, mostrando as nuvens escuras e carregadas em quase todas as direcções. Caíram os primeiros pingos na estrada e tive de usar todos os meus agasalhos da minha bagagem. Optei, claro, por estradas sempre secundárias. Num mapa da Michelin, são as estradas amarelinhas e brancas, que muitas vezes têm excelente piso e reduzido tráfego. Montado numa moto que não é rápida, é mais interessante e relaxante. A meteorologia anunciava a entrada de uma frente em Portugal, vinda de noroeste, como é hábito. Ia a fugir dessa frente que trazia chuva. O tempo foi gradualmente melhorando, enquanto percorria essas estradas até à zona de Palencia, Burgos, sem história.

O único ponto que merece referência, pelo caminho, e que já visitei duas vezes (fica à distância de um passeio domingueiro desde Bragança), são as Lagunas de Villafafila, a norte de Zamora. Desta vez não visitei e passei apenas bem perto. Estas lagoas estão ligadas à bem antiga exploração de sal na zona e são um dos mais importantes pousos e pontos de passagem de aves migratórias na Europa. Ali se pode encontrar, entre outros, a maior população de abetardas do mundo, estimada em 5000 exemplares. À possibilidade de observação de milhares de aves, junta-se um centro de interpretação e uma interessante visita às ruínas da exploração salina, na população próxima de Otero de Sariegos. É um local que recomendo para uma visita e por isso vos deixo a dica. Mais informações em http://www.villafafila.com/ .

Um mapa que ajuda a localizar as lagoas:
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Não sei como é convosco, mas o meu primeiro dia de viagem é sempre estranho. O corpo segue em cima da moto, mas a cabeça está noutro lado. É difícil desligar de uma certa rotina de trabalho, de semanas, meses a fio de vida sedentária. Ainda me pergunto o que estou ali a fazer e os pensamentos ainda resvalam para essa vida que abandonei temporariamente apenas há algumas horas. É só no segundo ou terceiro dia que me deixo embalar pelo ritmo e interrompo mentalmente o ciclo: estrada, paisagens, parar e comer onde e às horas que me apetecer, visitar o que dá na gana, não saber onde vou fazer a minha cama nessa noite.

Naquela “onda” de ser autónomo, levava comigo uma pequena despensa e fui fazendo pequenas paragens para pequeno-almoço e um curto snack. Pela hora “normal” de almoço, o cansaço e sono da “directa” invadiu-me finalmente. Saí da estrada de pouco tráfego numa pequena povoação adormecida, e nas traseiras da igreja, em local ermo e sossegado, a mochila foi a minha almofada por uma ou duas horas. Foi um curto mas retemperador e bem necessário sono.

Depois foram mais quilómetros de planície e paisagens de campos cultivados. Em Espanha, as terras não foram definitivamente abandonadas! Uma das culturas mais visíveis, abundantes e visualmente graciosas é a do girassol.

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Não me canso de admirar estes campos coloridos. Mas o interesse da cultura do girassol é muito mais do que estético, claro. Trata-se de uma cultura muito resistente e adaptável ao clima, que se dá numa ampla gama de temperaturas, resistindo bem ao frio e à seca. Não requer cuidados especias e a cultura é total ou parcialmente mecanizável. É essencialmente usada para produzir óleo de girassol, mas as sementes também são usadas como alimento para os pássaros e produção de biodiesel. Das flores pode ser extraído mel. Tudo no girassol se aproveita, até as hastes. Uma bela plantinha! Não admira que seja tão frequente nos campos que atravessei.

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Aproveito estas imagens para explicar de que se compõe a bagagem. À frente, ao meio, o pequeno chouriço contém a tenda de 2 camadas e umas xanatas de campismo. De lado, na grelha frontal, vão alguns mantimentos (bebidas, pão, material para sandochas, fruta, conservas), um pequeno fogão a gás e um kit básico de louça de campismo, para além do indispensável papel higiénico. Vão em dois alforges, normalmente usados na parte frontal das bicicletas, e vão presos à grelha dianteira. Nas pequenas malas laterais vão kits de ferramentas, câmaras de ar suplentes, um mini-compressor, um kit de reparação de câmaras de ar, um pc portátil, uma câmara fotográfica reflex que nunca utilizei na viagem (as fotos foram todas tiradas com uma compacta), alguma roupa. No saco impermeável segue mais alguma roupa, os “ferros” da tenda, guias e mapas, o colchão e saco-cama, um saco cheio de carregadores para o equipamento electrónico, um pac safe, para o caso de ser necessário (nunca foi usado). Muito por culpa da falta de treino de uma certa vida nómada, acabo por levar sempre algo a mais do que preciso na bagagem (e a reflex foi o meu grande arrependimento), mas cada vez acerto melhor no estritamente necessário.

Pouco depois da soneca, paragem nesta barragem para um snack.

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Se às 3 da manhã estava em Bragança a fazer as malas, às 3 da tarde encontrava este sinal. Nada mau, pequena 350.

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Esta região do sul do País Basco, La Rioja, a oeste de Logroño, é afamada pelos seus vinhos. A paisagem era de vinha e as “bodegas” sucedem-se. Por isso foi sem espanto que na povoação de Elciego encontro algo que conhecemos bem do nosso país: a hotelaria e o vinho de mãos dadas.

Vinhas em Elciego:
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Elciego e a bodega:
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O Hotel de luxo Marquês de Riscal é apenas uma das vertentes da empresa dos herdeiros do Marquês – com uma arquitectura especial. Se quiserem saber pormenores...
http://www.marquesderiscal.com/index.php?idmenu=60&mn1=3

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Admirei o futurismo das linhas do hotel, percorri o “casco histórico”...

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… e continuei viagem para leste, na direcção de Pamplona. Não tinha intenção de entrar em cidades grandes. Em contrapartida tinha interesse em percorrer reservas e parques naturais que ainda não conhecia. E o país basco era uma incógnita para mim.

A paisagem dividia-se entre vinha a os primeiros sinais das montanhas.

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Com a montanha voltou o tempo instável. Deleitei-me com estradas de amplas vistas no sopé destes montes e, já no fim da tarde, encontrei uma povoação chamada Estella, já não longe de Pamplona. Para norte fica uma área natural que merecia algum tempo e uma disposição mais fresca do que a que tinha, depois dos 600 kms percorridos. Não queiram saber como é o banco da Suzuki.... E como a chuva estava eminente, era tempo de procurar local para assentar acampamento. Para não entrar a “matar” no camping selvagem, procurei o camping municipal de Estella. Passei à porta e fiquei horrorizado: cheio como um ovo, muita gente. Não gostei. Queria algo mais natural. Avancei alguns quilómetros para norte onde sabia que existia outro camping. Cheguei à porta. Era de 1ª e tinha bom aspecto, mas qual não foi a minha supresa quando a guapa ao balcão me diz que estava cheio. É difícil de acreditar que não houvesse espacinho para mais uma pequena tenda, mas enrolei o rabinho entre as pernas e preparei-me mentalmente para a primeira noite à la belle étoile. E com chuva, ao que tudo fazia crer. Assim foi. Devíamos estar demasiado próximos de Pamplona e a cidade estava por ali toda a fazer férias.

Sob uma chuva muidinha e um tempo a ameaçar piorar, procurei um local por onde me enfiar e plantar uma tenda. À esquerda, uma central hidroeléctrica desctivada. Mas o terreno estava fechado a cadeado e um cão assegurava que não restassem dúvidas. Um pouco mais adiante, uma rampa em terra batida, com um pedrugulho a tapar parcialmente a entrada íngreme. Para uma moto trail não é um problema. Subo, encontro uma espécie de posto de entrada, com tudo queimado. Subo mais um pouco. O local parece ter sido habitado anteriormente, mas está abandonado. Uma caixa de correio sinistra destaca-se entre a vegetação e o silêncio total. Estava-se bem, não me viam da estrada, e não havia vestígios de passagem recente de gente nem de gado.

É sempre estranha, a primeira noite sozinho num sítio desconhecido. Apresso-me a montar a tenda, antes que chova mais. Estava muito vento, que de resto tinha soprado todo o dia, mas o local onde estou é abrigado. Ouço ao longe, em baixo, os carros. Depois da noite anterior sem pregar olho, o colchão de campismo sabe-me a um colchão Molaflex. Estou a vadiar, caraças. Ainda não me encontrei, ainda não estou no ritmo, mas já cá ando. Não tardo a adormecer.

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Vou buscar as pipocas..... :fixe:
(mto bom, como é hábito do meu Caro Amigo)

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Ricardo Andrés ||| BMW R1200GS ||| KTM 690 Enduro R


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