Algumas notas...
1) Preço da gasolina: 21/22 cêntimos por litro. Significa que encho o depósito de 56 litros da AT com cerca de 11 euros.
2) Viagens com a companheira. No norte, nas grandes cidades, é fácil encontrar alojamento com standards de conforto semelhantes aos da Europa. No entanto, assim que se entra no interior, as coisas mudam substancialmente. Há cidades marcadas como principais que têm um ou dois hotéis, frequentemente decadentes e com várias falhas. As infraestruturas turísticas são muito débeis. Cuidado com a estação do ano. Quando se viaja no sul, como estou a fazer, as temperaturas são muito elevadas nos meses de Verão. Estou a beber cerca de 5/6 litros de líquidos (principalmente água e alguns sumos) por dia. Convém que a companhia perceba isto ANTES de partir! A Primavera ou o Outono são as estações ideais para uma viagem de moto. O reveillon é uma altura relativamente popular para férias (mesmo de argelinos) nesta zona de oásis do grande Erg ocidental.
3) Esta também pode estar na classe de “viagem com a companheira”. Há pouca tradição de comer fora nos locais por onde tenho passado. Há pequenos comércios em todo o lado, que ficam abertos até tarde (22 horas?), por isso à fome não se morre. Mas “restaurante” por aqui é uma palavra que convém redefinir. Os locais “seguros” são os restaurantes dos hotéis, onde a refeição é uma coisa mais ou menos à europeu. Acontece que esta é a época mais baixa de turismo e os restaurantes dos hotéis ou estão fechados (não há clientes) ou servem coisas básicas (steak/frites). A alternativa é ir a um tasquinho deles, normalmente um “buraco” quente onde se pode trincar “poulet” (frango), omelete, saladinhas e sopa e mais algumas coisas que hei-de ainda experimentar. Nada de porco, claro. Para mim tem sido maravilha, mas atenção a quem não se adaptar… Ainda não vi uma europeia por aqui, nem sozinha nem acompanhada. Outra coisa é que a relação com a comida e os locais de repasto dos argelinos é bem diferente do que estamos habituados. Comer aqui é uma coisa “funcional”, as porções muito mais correctas (pequenas) do que num restaurante europeu. Come-se porque é preciso e ir ao tasco é coisa rápida: comer em 10/15 minutos e andar. Não se fica por lá na conversa (isso é para a esplanada). A comida é muito simples: come-se o que eles cultivam e os animais que têm no quintal. As saladas são deliciosas: há muito tempo que não como tomate tão feio e tão maduro e saboroso. Muita melancia. Como os hotéis têm frigorífico no quarto (um luxo na Europa, mas não aqui!), pode-se ter bebidas e melancia fresca. ASAE é coisa que aqui é desconhecida e nunca vi facturas/recibo em lado nenhum (excepto nos hotéis).
4) Distribuição do leite. Estava eu em Moghrar (ainda sem escolta militar) a depenicar uma coxa de frango, saladinha e umas “frites avec sauce”, no pico do calor (tudo muito bom, embora a confusão e asseio do local desafie o mais santo e tolerante dos europeus), chega o rapaz do leite. Uma camioneta de caixa aberta com duas vacas amarradas ao gradeamento pára em frente ao tasco (eu estava numa mesa cá fora). O dono do “restaurante” sai com uma panela e começa a operação. Não pensem que foi coisa rápida. Embora o leiteiro manejasse com habilidade as tetas da vaquinha, esta não queria cooperar e dava pequenos coices e vazia uma nuvem de pó. Amarrada a perna da vaca com a ajuda do dono do tasco, lá se conseguiu consumar o acto. Tudo isto terá demorado uns vinte minutos, em frente mesmo do local onde estava a comer, a camioneta sempre a trabalhar, no meio do calor insuportável da uma da tarde.
5) À noite as pessoas conversam, sentando-se ou acocorando-se nos passeios da cidade. Há muita gente nas ruas, nestas noites quentíssimas do deserto. Não há bares, apenas cafés com mesas cá fora, a que nós chamaríamos esplanadas. Toma-se chá, há sempre garrafas de litro e meio nas mesas. A partir das dez, dez e meia da noite, o movimento nas ruas começa a diminuir. É uma vidinha simples, que está certamente na base da simpatia e ambiente acolhedor que se sente.
Umas fotos de oásis de Taghit e um passeio matinal até uma zona de gravuras rupestres. As próximas fotos serão mais “humanas” com gente e aspectos da vida dos oásis.
O oásis de Taghit, visto da direcção Norte, no meio de uma zona de palmeiras. Para Este, as dunas, para Oeste o Hamada (deserto rochoso).

Passeio matinal entre as dunas e as palmeiras.


The end of the road... A estrada acaba aqui, em frente a uma formação rochosa, cheia de mais gravuras rupestres. Não, não vos vou massacrar com mais antílopes!

Estou a tirar a foto empoleirado nas rochas...
Zé Paulo.