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MensagemEnviado: quinta ago 12, 2010 4:25 am 
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Malta, as minhas desculpas pelo link para o vídeo, que não era o que vos queria passar... O vídeo que acho muito interessante e vos aconselho para aprender um pouco sobre Timimoun e as foggara, é este:

http://vimeo.com/796685

É em francês, dura uns 17 minutos e na segunda metade explica-se em grande detalhe como funcionam as foggaras. Para mim, pelo menos, é fascinante e a explicação muito clara. Entretanto trago comigo um DVD sobre as tradições do vale de M'Zab que encontrarei maneira de pôr à disposição da comunidade quando estiver de regresso.

Hoje fiz uma viagem de 600 kms de Ghardaia para o litoral. A ideia é ver as diferenças de estilo de vida entre o mais genuíno sul onde tenho andado, e as regiões do Norte. São grandes, pelo que já vi. Era coisa para decorrer sem espinhas, pois a temperatura agora anda por uns amenos 35/37 graus, e quando já me estava a afiambrar para ir ver as argelinas na praia, Allah decidiu punir-me nesta época de Ramadão e pôr-me à prova, arranjando maneira de garantir que a partir daqui isto não se vai tornar um relato enfadonho de banhos de família em Vilamoura. Para manter isto interessante, podia bem não estar a escrever estas linhas para vocês, mas sim a tentar fazer um telefonema para um advogado. Passei há pouco 1 horita numa esquadra da polícia em Argel, para, com um favor do comissário da polícia, ter uma cama no hotel onde me deitar. Estou sem passaporte e amanhã vou à embaixada portuguesa cá na cidade para tentar legalizar-me de novo. Esta cabecinha de vento, que tanto se tentou disciplinar com os documentos para que tudo corresse bem num país com tantos controlos e postos militares que não convém mesmo nada perder a identificação, não sabe onde meteu o passaporte (que entra e sai da bolsa várias vezes ao dia). Num país normal, a partir do momento onde tinha dado por falta do documento, teria feito o caminho inverso e acabaria possivelmente por o encontrar, mas com os controlos militares, a história pareceria ainda mais estranha se o tivesse tentado fazer... Poupo-vos por agora aos detalhes do dia, que era para ser um passeio tranquilo até à praia... (eh eh)

De modo que por entre dezenas de "barrages" de estrada, lá fiz os kms que faltavam até Argel e às 9 horas lá estarei no consulado a pedir ajuda.

As primeiras impressões, quando passei pelos subúrbios da cidade, foram surpreendente más. Ruas quase desertas (até pensei que a razão tinha algo a ver com o Ramadão que começou hoje) e dezenas - literalmente - de barragens pelas ruas dos arredores. E a polícia não me pareceu a "normal". Pelo tipo de carrinhas pareceu-me uma espécie de equivalente a uma polícia de choque. Acabei por não ver nada de concreto ou declarado, nem movimentações precipitadas, mas há um pouco de tensão (morna) a mais do que estava à espera. Estou num hotel do centro e "cá em baixo", junto à água, as coisas parecem-me mais calmas. Ainda assim há barragens policiais por muitas ruas do Centro de Argel e muitos carros da polícia a circular. Não sei se isto é o normal ou se se passa algo de especial...

O Ramadão começou hoje em todo o mundo islâmico, depois da lua nova. As coisas têm um ritmo especial nesta época. Aqui não se come nem se bebe (publicamente, pelo menos ;) ) das 4 da manhã até mais logo ao pôr-sol (mais ou menos as 20 horas). As noites por aqui, são por isso, muito animadas e ainda agora à meia-noite estavam alguns tascos abertos. Vi a minha primeira comida do dia, perto da meia-noite, quando consegui que me dessem um quarto no hotel sem o indispensável passaporte. Estou portanto quase muçulmano no meu rigor Ramadonês, apesar de ter pecado um bocadinho com alguma água que bebi durante o dia...

O Rui Tremoceiro, que tem acompanhado de perto esta viagem, foi o meu anjo da guarda, mais uma vez. Foi a ele que pedi e que me enviou os contactos da embaixada portuguesa. Já é tempo de colocar aqui uma foto, de quando lá passei no alentejo. OBRIGADO, Rui!

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Até breve, espero! ;)
Zé Paulo.

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MensagemEnviado: quinta ago 12, 2010 12:37 pm 
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Ze Paulo

Gosto da tua Tshirt :lol: :lol:
os dois senhores da foto (Ze Paulo /Rui Tremoceiro) vão estar presentes no Travel Event em Avis, vamos ter uma noite de Sexta com muitas historias da Argelia

um grande Abraço

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www.touratech-portugal.com


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MensagemEnviado: quinta ago 12, 2010 1:25 pm 
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Zé Paulo!

É impressão minha ou estás mais magro? :bigsmile:

Não seria melhor meteres água no depósito que tem maior capacidade????
Olha só para aquelas garrafas!!!:wacko:

:lol: :lol: :lol:

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Ab ;)
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Ex: K1200R:love:

O melhor de dois mundos...continua!
Só se vive uma vez...aproveitem!


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MensagemEnviado: sexta ago 13, 2010 9:19 am 
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Oh amiguinho, tu vê se te apressas a sair aí dos desertos. Olha que o aniversário é já daqui a uma semana....:bigsmile: :bigsmile: :bigsmile:

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Pelo prazer de conduzir sempre..uma BMW!! :love:


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MensagemEnviado: sábado ago 14, 2010 8:13 am 
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Edgar Calado Escreveu:
Magnifica Chorba !

Ás 23.46 h. já marchava :bigsmile: !

Z.P. podemos trocar a sopita por uma imperial !!?

Há alturas em vacilaria, sim. Mas tenho quase a certeza que se consegue experimentar a chorba aí por Lx, mesmo não sendo a mesma coisa que o pacotinho completo de estar por aqui. Vou investigar.... ]Hoje apanhei 42° e...lembrei-me de ti Zé!

Que fresquinho....:lol:

Continuação de boa viagem.[/quote]

Desta vez sou eu que lamento, João, já ando às vezes abaixo dos 30º no Mediterraneo... :lol:

Elsyr Escreveu:
Ze Paulo

Gosto da tua Tshirt :lol: :lol:


As duas que me ofereceram correm mundo comigo, mas algodão é uma má escolha para este clima tórrido. Depois falamos sobre as (minhas) comissões do material Touratech que vais vender aqui na Argélia! :lol::lol::lol:

Joao Krull Escreveu:
Zé Paulo!

É impressão minha ou estás mais magro? :bigsmile:

Não seria melhor meteres água no depósito que tem maior capacidade????
Olha só para aquelas garrafas!!!:wacko:

:lol: :lol: :lol:

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Perdi peso mas ainda tenho MUITO mais para perder. É um bom ponto e partida. :smile:

Esta foto tem outra coisa que vale a pena comentar. Do lado esquerdo há um pontinho negro na estrada. Só percebi o que era quando lá passamos mais tarde: um autocarro grande totalmente queimado. Ficou ali a ocupar metade a estrada e ainda ninguém o tirou.

Rosa Dias Escreveu:
Oh amiguinho, tu vê se te apressas a sair aí dos desertos. Olha que o aniversário é já daqui a uma semana....:bigsmile: :bigsmile: :bigsmile:


Já não ando no deserto (literalmente falando), Rosa. Mas metaforicamente continuo num "deserto", um país chamado Argélia. Estou actualmente em Wahran (Orão). Deixa-me lá queimar os últimos cartuchos neste belo e estranho país, antes do aniversário.

Resolvi a questão do passaporte perdido ainda na quinta de manhã na embaixada de Portugal em Argel. Ainda bem que tudo se resolveu naquele dia. Sexta aqui é fim-de-semana. Fui muitíssimo bem tratado e julgo que não deverei ter mais problemas por aqui com documentos. Não tinha dado notícias porque entretanto tive um dia tão bom e longo em Tipaza, um pequeno porto piscatório perto de Argel com tão gigantescos vestígios da presença romana que foi "abençoado" pela UNESCO (mais património mundial). O melhor de tudo nem foi a visita às ruínas mas o serão entre argelinos que vos contarei mais tarde.

Orão é uma cidade bem diferente de Argel. O ambiente é muito mais relaxado, há muito menos polícia nas ruas, a vida nocturna é muito viva, apesar de bem diferente das nossas aí na Europa, sobretudo nesta época especial de Ramadão. Vou ficar aqui o fds, antes de me aproximar do porto onde irei embarcar de volta para a Europa. Como o hotel tem as "pipizices" todas, incluindo Wifi, voltarei aqui a contar-vos mais algumas peripécias. :smile:

Zé Paulo.

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MensagemEnviado: sábado ago 14, 2010 12:03 pm 
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:nuts: :nuts:


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MensagemEnviado: sábado ago 14, 2010 7:05 pm 
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Como o episódio da perda do passaporte e passagem por Argel é por si só uma história dentro da história, para quem tenha paciência de a ler, hei-la. :)

Resumindo a história: cheguei a Argel ao cair da noite, depois de mais de 600 kms, vindo de Ghardaia, um pouco preocupado com controlos policiais desde que, a meio da tarde dei por falta de passaporte. Ainda nesse dia tentei telefonar várias vezes para a embaixada, teoricamente em horário de funcionamento, mas sempre sem sucesso, encalhando constantemente no atendedor telefónico. Ainda a caminho de Argel, decido fazer o lógico e necessário numa situação destas: parar numa esquadra e declarar a perda, pois sabia que a qualquer minuto seria controlado e apanhado sem o documento que me pedem sempre várias vezes ao dia.

Parei na esquadra de polícia numa pequena povoação chamada Seghouane, a uns 100 kms no caminho de Argel e os principais na hierarquia quase não falavam francês. Disse-lhes o que se tinha passado e que não queria estar nesta situação sem papéis. Os tipos fizeram o que em temia: preocuparam-se mais em se certificar do que lhes dizia, do que em me ajudar. Tiraram fotocópias do meu BI, do papel de declaração das divisas estrangeiras (que tinha carimbos da data de entrada na Argélia e o nº do passaporte) e da factura do hotel de Ghardaia, que me permitia provar que tinha comigo o passaporte, de manhã, no ponto de partida desse dia. Telefonaram para o hotel em Ghardaia a comprovar que lá tinha estado e apresentado o passaporte (obrigatório para o preenchimento de uma ficha de polícia na recepção dos hotéis) e mandaram-me embora sem qualquer declaração de perda: eu que me desenrascasse na embaixada de Portugal. Só lá podia ir no dia seguinte e sabia que os hotéis não me deixam lá ficar sem documentos por causa da polícia e num controlo policial que me fizessem estava feito! Bem lhes perguntei o que faria quando fosse controlado, quando tentasse ficar num hotel... Os gajos disseram-me que não haveria problema, "tout va bien, tout est reglé, monsieur"... Claro que haveria problema num país destes...

TIve uma sorte do caraças e até Argel ninguém me mandou parar nas numerosas "barrages" policiais, senão podia ter acabado pior. Há militares de toda a espécie, os azuis da polícia, os verdes da gendarmerie, e uns "polícias de choque" armados até aos dentes que olham para mim como se escondesse uma granada dentro das malas. Chego aos arredores da cidade e vou logo espreitar o bairro das embaixadas para saber onde me dirigiria no dia seguinte e tento encontrar o Centro e os hotéis, pois após meia hora de voltinhas não vejo nem um. A cada 300 / 500 m há uma espécie de polícia de choque que me faz abrandar quase até parar, apontando um instrumento de metal para cada veículo que passa. Quando enfim me mandam parar, contra-ataco logo com sangue frio e antes que me digam qualquer coisa, pergunto onde se situa um hotel (um bastante caro, cujo nome tinha visto pouco antes, no guia Lonely Planet). Respondem-me com um sorriso, mandam parar o trânsito para que eu fizesse meia volta sem suspeitar que não tenho documentos, com a cassette sorridente do costume: "soyez le bienvenu, monsieur".

Depois de algumas deambulações, chego a um hotel médio/alto, o Es Safir. Se no Sul qualquer hotel serve, aqui no centro das grandes cidades há que escolher com cuidado. A tendência é haver do muito barato e do excessivamente caro. Há que ficar num com parque com estacionamento (e os baratos não o têm, normalmente), por causa da moto, que aqui é um empecilho. Já com a moto estacionada depois de passar por um porteiro renitente em deixar entrar a moto no parque minúsculo num centro da cidade sem espaços, tento a minha sorte ao balcão do hotel. Conto a minha história, a visita à polícia de Seghouane (eles podiam confirmar!), mas são implacáveis, como imaginava... Não me podia aceitar e eu teria que ir antes à polícia, que para estes casos tem um procedimento, um "serviço de hotel", que consiste em passar um documento temporário que traria para poder ficar no hotel, até eu resolver a situação. Nesta altura, eram umas 10 da noite, tinha comido pela última vez ao pequeno-almoço e o Ramadão começava precisamente nesse dia, o primeiro de jejum colectivo. Com um calor insuportável (acho que sobretudo pela humidade), alagado em suor, cansado e esfomeado, lá vou eu a caminho da "central de police", uma esquadra grande. Páro em frente para perguntar onde me devia dirigir e reagem assustados. Antes de me deixarem falar, dizem-me para sair dali e parar mais à frente. Obedeço (aqui obedece-se sempre! :) ), chegam ao pé de mim, primeiro um, depois dois, depois três, e conto a situação. Mais calmos e brincalhões, querem saber as coisas habituais: quando custa a moto, o que estou ali a fazer, qual a velocidade máxima, se lha quero vender, que o Cristiano Ronaldo é maior se conheço um argelino que joga num clube português... Normalmente eu tenho paciência para esta conversa mole, mas neste dia só queria tomar um duche, comer e resolver a história do passaporte logo de manhã. Devia estar com um aspecto derreado... Mas não posso estacionar ali, tem que ser do outro lado da rua. Lá vou eu, desligo a burra com o motor a ferver de tantas voltas na noite quente da cidade congestionada.

Lá me indicam uma porta. Dirijo-me a um guichet, mandam-me contornar um canto para falar com a mesma pessoa (?), explico a situação. Mandam-me falar com um tipo à civil noutra sala, explico novamente, que os colegas de Seghouane estão ao corrente de tudo (não se interessa) e que preciso de um papel para me deixarem dormir no hotel e que no dia seguinte vou regularizar tudo na embaixada. Manda-me "patienter", pede-me documentos. Dou-lhe o BI, a carta de condução, a factura do último hotel, o papel das divisas e ele sai. Fico numa sala com duas prostitutas (julgo eu, pelas maneiras), alguns elementos de uma família de alguém que está detido provisoriamente naquela esquadra (nem eles nem os polícias parecem ter a certeza!), e alguns tipos bem dispostos e aparentemente amigos dos polícias que estão a ver a selecção da Argélia a jogar no televisor da sala. Daí a 20 minutos chama-me com a minha papelada na mão, faz um telefonema (em árabe, não percebo nada), volta a pedir para "patienter" na sala com resto do pessoal. Mais daí a bocado volta com tudo na mão, fala baixo com uma das raparigas e diz-me para "patienter". Vai e volta mais algumas vezes, tagarela com algumas pessoas em árabe, vira-se para mim e diz que, e tal, "c'est interdit, monsieur, mais on va vous aider...". Parte de novo. Nem chego a perceber exactamente o que é proibido, mas espero. Ao fim de uma hora, volta com os papéis e diz-me de novo que "c'est interdit", mas que me vai fazer um grande favor. Devolve-me todos os papéis, não me passa nenhuma declaração de perda nem mais nenhum papel, mas diz-me para voltar à recepção do hotel e dizer que tinha falado com o commissário... Saimos sozinhos até à porta da esquadra, volta a repetir-me que se trata de um favor pessoal. Agradeço muito e várias vezes. A coisa fica por aqui. ;)

Volto ao hotel na situação "de sem documento algum", mas com uma cama garantida para dormir essa noite, tomo um muito necessário duche e fraquinho saio para a rua esfaimado, capaz de comer um boi. Felizmente a folia do Ramadão tinha começado, toda a gente está a aproveitar o período das 20 horas até às 3/4 da manhã para encher os estômagos vazios e não tenho que andar muito para encontrar comida.

Volto ao hotel (com Wifi), ponho o e-mail em dia, procuro mais algumas infos sobre a embaixada e durmo algumas horas (poucas). De manhã nem tomo pequeno-almoço (nem sei se com o Ramadão mo dão!) e vou directo à embaixada. Ou tento ir... Ainda não tinha feito 500 metros desde a saída do hotel uma carrinha da polícia com quatro indivíduos manda-me parar. Tenho a certeza de que foram avisados pelo hotel da minha saída, de tal forma vinham com o olho em mim. Julgo que a falta de documentos, ser estrangeiro numa época em que ninguém cá vem, num meio de transporte que ninguém usa, a pedir a senha para usar o Wifi (portanto com PC), com grandes malas de alumínio fechadas à chave, chama demasiado as atenções por estas bandas no 1º dia do Ramadão.... Vinham filados em mim, pedem-me os documentos. Eu explico de novo toda a situação, que não tenho passaporte (eles fazem cara de que a história não é nova para eles), pedem-me os documentos que tenho e querem saber o que levo nas malas e pedem para ver tudo. Depois, um deles abre uma agenda e diz que me vai fazer um inquérito. Isto numa rua movimentada (carros e peões), com a AT estacionada num local à beira de tombar (rua inclinada e para o lado "errado" e sem espaço). Eu obedeço a tudo, claro, e de repente, o tipo fecha a agenda, devolve-me os documentos e diz-me para seguir...

Percebi que não ia ter muita paz por ali, naquela zona que parecia sitiada. Decidi ir tratar da papelada o mais rápido que podia e ir para uma zona mais sossegada, junto ao mar. Aquele policiamento todo não me estava a cheirar bem e mesmo com documentos provisórios da embaixada, não era local onde me apetecesse ficar muito mais tempo. No entanto, apesar da sujidade, calor, das ruas de inclinação enorme e alcatrão perigoso (polido e sujo) e difícil circulação, a cidade pareceu-me ter muito carácter e na zona ribeirinha é muito bonita. Para um dia voltar...

A zona das embaixadas ainda tem mais polícias do que o normal. Estaciono a AT perto da embaixada portuguesa, numa zona onde me pareceu não causar impedimentos. Bato à porta, passo por um detector de metais, entrego o BI e espero. Enquanto espero, viriam autorizar-me/sugerir-me para fazer entrar a moto no portão da embaixada, pois está a chamar demasiado as atenções. Vou buscá-la. Já lá estão dois polícias espantados com a moto (como é habitual... agora compreendo a síndrome das estrelas de cinema que não conseguem andar na rua despercebidas... :) ). Primeiro, que não pode estar ali, depois já não faz mal mas querem saber quanto custa, quanto "dá", de onde venho, se sou turista.

Na embaixada fui muitíssimo bem tratado. TInha um scan da primeira página do passaporte. É impresso e autenticado. Passam-me uma declaração de perda em francês, com o nº do dossier do visto da embaixada da argélia que entretanto chegou por fax, um título provisório de viagem para poder apresentar à saída do país e uma declaração de perda em português para poder revalidar o passaporte em Portugal. Vou com o motorista da embaixada tirar fotografias, que são necessárias. Já tinha perdido o passaporte há 9 anos atrás e isso está anotado; dá um ar de desmazelo terrível, bem sei, mas digo para mim que tento ser cuidadoso com estas coisas (possivelmente não o suficiente)... :(

Entretanto conversei um pouco com o motorista da embaixada, um berbére brincalhão, bem diposto, mas que me pareceu muito responsável. Trabalha quase há 20 anos na embaixada, já conheceu Portugal e fala um pouco de português. Perguntei-lhe se todo o policiamento era normal. Disse-me que sim, embora no início do (e durante o) Ramadão eles tendam a reforçar o policiamento. Bom, a mim impressionou-me todo o aparato!

Depois destes acontecimentos não me apeteceu ficar na sitiada Argel e rumei a Tipaza, local com vestígios impressionantes da presença romana. Foi uma boa escolha, passei lá um tempo excelente, na companhia de locais.

Zé Paulo.

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MensagemEnviado: sábado ago 14, 2010 7:55 pm 
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Localização: Massamá
Boas Zé Paulo.
Maldito passaporte:embaraço: :embaraço: :embaraço: pelo menos vale pelas historias, que ficam para contar:bigsmile: :bigsmile: :bigsmile: são esses pequenos contra tempos, que muitas vezes, nos fazem recordar :bigsmile: :bigsmile:
Vêm rápido sff :bigsmile: :bigsmile: :bigsmile: estamos havidos para ouvir essas peripécias no aniversário:bigsmile: :bigsmile: :bigsmile:

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RICARDO MATIAS
K1200LT-99
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MensagemEnviado: domingo ago 15, 2010 12:13 pm 
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Fantástica história. Grande aventura. Continuação de boa viagem.

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K1300S


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MensagemEnviado: segunda ago 16, 2010 8:55 am 
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Localização: Atenas, Grecia
Apesar do contra-tempo, é bom saber que tudo se resolveu com a papelada. Às vezes, estas trapalhadas fazem mesmo parte da história (e ainda por cima, acontecem sempre nos sítios onde causam mais problemas).
Mas nada que evitasse uma grande expedição. Continuação de bom regresso.
Abraço

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Pedro, El Paco
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MensagemEnviado: segunda ago 16, 2010 9:25 am 
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Já tinha decidido rumar a Tipaza antes de ter perdido o passaporte. Ir "um bocadinho ao lado", a Argel, apenas a 70 kms a leste, não era uma grande modificação de planos, não viesse ela pela razão que foi... Prefiro quase sempre pernoitar em terras pequenas quando viajo de moto. É sempre mais económico, mais seguro e os contactos com as pessoas mais fáceis.

Tipaza é uma pacata vilória de pescadores, incomum por aqui: uma povoação feita em torno de uma "atracção turística" em versão concentrada. Nada mais nada menos que património mundial da UNESCO. QUando há pontos de "atracção turística" na Argélia é assim, em grande. Os argelinos parecem não ter noção do "valor turístico" das suas riquezas e tratam-nas com displicência. Numa zona cercada, a dois minutos do pequeno "centro", estende-se uma parte de uma povoação romana: o anfiteatro, um antigo teatro, as termas, o porto, a rua principal. Tudo paredes meias com o mar, enquadrado pelas montanhas em redor (o monte Chenoua). É um cenário lindo e ao mesmo tempo simples. Gosto. E uma vez mais, apesar do relevo turístico do local, estou só entre argelinos. No hotel, nesta terra, neste país. E este é um dos encantos absolutos deste país.

Para entrar no campo das ruínas romanas paga-se 20 dinares (uns vinte cêntimos) :) a um funcionário do estado mal encarado. Há alguns painéis explicativos mas muito sucintos. Não há guias. Os visitantes (poucos) deambulam por ali. Caminho, qual romano, por ali, até ao mar, onde se sente a brisa. O anfiteatro, restos de um teatro, a "avenida principal", as termas, o Porto, o cemitério. Mais tarde em passeio pelas redondezas do campus, do lado exterior, descubro mais "pedras romanas", que andam por ali, em cantos cheios de lixo. Incrível! Venho a saber mais tarde, por locais, que o fundo do mar está repleto de muitos mais vestígios desta cidade romana, a maior parte inexplorados.

Um cheirinho do 'site'...
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O mapa da cidade romana.
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O monte Chenoua e o pequeno porto de Tipaza. Fotogénicos, não?
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Durante o Ramadão, a vida destas terras tem um ritmo especial. Cerca das oito horas, quando o sol se põe, ouvem-me os apelos à oração. As ruas ficam totalmente desertas. Todos os argelinos estão à mesa com a família (é um ritual especial a mesa do jantar durante o Ramadão) e mais tarde a rezar nas mesquita. Em Orão, andar na rua a esta hora é particularmente impressionante. Às oito em ponto, não há um carro nas ruas... numa cidade com 2 milhões de habitantes, cujas ruas estão repletas de gente, uma hora depois. Às 20:15, começam a ver-se alguns carros, algumas pessoas e a partir daí, as ruas e esplanadas enchem-se de centenas de milhares de pessoas. É impressionante.

Mas voltando a Tipaza, tive um dos melhores serões destes dias na Argélia, de conversa com um pescador local que trabalhava num restaurante. Eu fui o único cliente dessa noite :) , convidei-o a tomar chá comigo e ficamos na conversa até às tantas, às vezes acompanhados por amigos dele que iam chegando. Por razões que perceberão mais tarde, deixo a maior parte do relato da conversa para depois, ao vivo. Ele não é um pescador como talvez o imaginamos em Portugal. É um jovem a quem dou uns 25 anos, que não acabou a escola secundária e que decidiu dedicar-se pesca e ao negócio do peixe. Neste pequeno porto, só há pequenos barcos e é um negócio de pequena escala. Contou-me o que faz nos dias durante o Ramadão para se esquecer da fomeca :) das praias secretas só acessíveis por barco que existem dentro do monte Chenoua (nas fotos acima) e quis saber da vida da Europa que nunca poderá conhecer... Foi um dos melhores momentos destas férias, e se voltar a Tipaza virei seguramente conversar com o B. de novo!

Depois de Tipaza, a costa em direcção (oeste) a Orão. As praias aqui, salvo muito raras excepções, não são lugares explorados turisticamente, sem hotéis e feios, nas imediações. Especialmente no Ramadão, estão praticamente desertas. Os estrangeiros fogem de cá no Ramadão e os muçulmanos estão concentrados nos rituais da época. Mas há lugares muito bonitos.

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Uma curiosidade. Os autocarros que se vêem por todo o lado e que fazem as ligações entre cidades. São minibuses Toyota, de uns trinta ou quarenta lugares, climatizados, com a particularidade de terem todos Schnorkel e são muito rápidos (ou os motoristas loucos!). É uma excelente forma de viajar no país, pareceu-me, para além de muito barata.

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Orão. 2 milhões de habitantes e grandes contrastes. Gostei muito da cidade. Muito menos policiada do que Argel. O tempo esteve excelente durante a minha estadia e as noites com a temperatura ideal.

A praça 1º de Novembro de 1954. A data do apela à rebelião dos argelinos contra a França colonizadora, que levou à independência do país, após 8 anos de guerra. É o Rossio cá do sítio. FIquei alojado num excelente hotel, não demasiado caro, a 2 minutos a pé.

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Nesta cidade, que é a segunda do país, respira-se de tudo. Mesquita onde se reza com fervor, zonas novas, paredes meias com extensas zonas de edifícios muito degradados, mercados apinhados em ruas estreitas, lixo, muito lixo, fortes odores, casas em ruínas, "favelas", tudo dominado pelo porto, cá em baixo, e por um monte a oeste (o djebel Murdjadjo) onde existe um forte e uma igreja (de Santa Cruz), do tempo do espanhóis. A subida lá acima é muito cénica e o panorama para Orão e na direcção oeste é deslumbrante.

O forte e a igreja de Santa Cruz lá no alto e à direita, o porto.
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O porto.
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Mercados nas ruas de Orão.
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(continua)

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MensagemEnviado: segunda ago 16, 2010 9:25 am 
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(continuação)

As casas e ruas de Orão. A dois passos do Centro...
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Em Orão pude finalmente ver um bocadinho da beleza que se esconde por detrás dos véus.
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Como seria de esperar, as mulheres na cidade vestem-se de forma menos tradicional, algumas à ocidental. De uma forma geral toda a gente se veste de forma muito simples, o que me agrada. Também fiquei com a ideia que os velhos são mais respeitados, mais ouvidos e que estão menos sozinhos do que na Europa. O modo de vida por aqui ajudará muito a isso.

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Dois dos lugares com algum arzinho turístico junto à praia (com alguns hotéis e tudo!) são Ain El Turk (um subúrbio feio) e Les Andalouses (o único local que vi que dá ares de Cote d'Azur :) ), a oeste de Orão, onde andei a passear ontem. Uma espécie de Carcavelos / Tamariz lá do sítio.
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Alguns locais que nos habituamos cá na Europa a que sejam "nossos", são assim neste país... Este é o Cabo Figado (ler à francesa: Figadô!). One, two, three, vive l'Algérie...

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O panorama de Orão em fim de dia da zona do Forte de Santa Cruz... (pena a neblina que limitava a visibilidade).

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Esta deve ser a última vez que aqui venho chatear-vos antes do regresso à Europa. Vou daqui a pouco para Ghazaouet, explorar mais um bocadinho da costa até Marrocos, e amanhã, se tudo correr como previsto, cruzo de volta o Mediterrâneo até Almeria. Esta viagem foi de todas as que fiz a que mais me fez palpitar. Nunca estive tão sozinho no meio de um povo cujos costumes pouco conhecia (e pouco conheço) e isso foi uma grande experiência. É isso que eu procuro quando viajo. Também foi muito bom pela vidinha que levo por aqui de moto... Vocês percebem-me... Obrigado pela vossa companhia e até já.

Zé Paulo.

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MensagemEnviado: segunda ago 16, 2010 9:38 am 
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Estes apontamentos de viagem não ficariam completos sem agradecer aos meus amigos da Motomorais de Bragança, que, como de costume, zelaram para que me "esquecesse" da máquina que me levou nesta viagem! :)

O Teófilo,

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O Ricardo,

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E o meu amigo do peito Toni que não me deixou vir sem algumas peças (que não foram precisas)!

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Zé Paulo.

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MensagemEnviado: segunda ago 16, 2010 10:00 am 
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Rica viagem / Viagem rica!!

És um ganda maluco! :smile:


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MensagemEnviado: segunda ago 16, 2010 10:22 am 
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É sempre um prazer ler estas crónicas de viagem.

Muito obrigado Zé Paulo.

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Cumprimentos,
Jorge Godinho


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